quarta-feira, 21 de julho de 2010

O "Monstro" - de frente com o hemangiossarcoma canino

Quando vi o olhar do veterinário, antes mesmo de ler resultado do exame, chorei.

Minha cachorrinha Theodora estava mesmo com câncer.

Hemangiosarcoma esplênico.

Um monstro feio e mau, de nome feio e comprido, e resolvemos acabar com ele.

Este blog é sobre esta história.

E esta história com certeza terá um final feliz.

Porque diagnósticos e pesquisas se baseiam em estudos e estatísticas.

Mas os milagres se baseiam em exceções.

Exceção rima com coração, com emoção, com solução, com superação.

E eu sempre gostei de rimas.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Hemangiossarcoma canino - quanto antes detectar, melhor

Hoje estou na casa dos meus pais e, diante do imenso vazio sem a Theodora por perto, me questino: Se tivéssemos detectado antes o câncer, ela ainda estaria aqui?
O hemangiossarcoma é um tumor agressivo e se desenvolve muito rapidamente.
Não sabemos por certo quando tudo começou.
Quando notamos Theodora quietinha, sem comer direito, e a levamos ao veterinário, as suspeitas iniciais eram de que a doença do carrapato pudesse estar se manifestando novamente
 Os exames de sangue chamaram a atenção pela alteração nos leucócitos, mas o veterinário daqui não recomendou um ultrassom e  o tratamento se resumiu a vitaminas e alguns medicamentos.
Quando  levei por fim Theodora  para Campinas, acomodei-me no fato dela estar já medicada e não a levei imediatamente para o outro veterinário - foram cerca de 10 dias até a nova consulta para um segunda opinião.
Esta semanas foram cruciais, uma perda de tempo incrível.
 Felizmente o veterinário de Campinas foi rápido para recuperar o tempo perdido: entre fazer a consulta, o ultrassom, o exame de sangue e realizar a cirurgia, foram menos de 24 horas.
Mas o tempo perdido foi o suficiente para as células cancerígenas se instalarem e meses depois, ressurgirem impiedosamente.
"O livro não mente", me disse o veterinário, abrindo as páginas de um pesado livro de medicina veterinária -
" A sobrevida para casos de hemangiossarcoma,  sem quimoterapia, é de 15 dias. Com quimioterapia, 120 dias em média" .
Eu duvidei do livro e duvidei do médico.
Mas o livro disse a verdade, uma verdade cruel e direta demais e contra qual lutei firmemente.
Theodora foi valente e resistiu bravamente à cirugia e ao tratamento; e não se deixou abater antes dos 120 dias se passarem.
 Mas na última semana, alimentando-se somente por soro, com o fígado comprometido, Theodora não resistiu.
Fiz de tudo para adiar esta partida..
Nos últimos dias, levava-a  duas vezes pro dia à Clinica para tomar soro, preferia ter que ir  e voltar do que deixá-la lá o dia todo, pois sempre acreditei que em casa ela se sentiria melhor, mais protegida e amada.
Foram dias de transtorno, revezamentos, noites em claro, mas todos da família fizeram de tudo para que Theodora se recuperasse...
Mas se o objetivo inicial deste blog era partilhar uma ponta de esperança aos que passam pela mesma situação, o objetivo agora também é dar uma dica: nunca passem muito tempo sem fazer um check up completo em seus cãezinhos.
E mesmo que o veterinário não indique, peçam e  insistam pelo ultrassom anual.
Se ele disser que não parece necessário, mesmo assim insistam  e façam.
Se detectados no início, os tumores são mais facilmente tratados, há mais chance de cura ou pelo menos, de mais tempo de sobrevida com qualidade,pois o tratamento começa mais cedo.
A gente nunca espera que isso aconteça, mas o fato é que pode acontecer.
Portanto, ultrassom pelo menos uma vez por ano é uma forma de protegermos nossos animaizinhos tão amados.
Ultrassom não é garantia de vida, mas é importante.
A perda da nossa Theodora foi um imenso  sofrimento e um imenso aprendizado.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Theodora, uma cocker spaniel em nossas vidas

Lembro do dia em que Theodora chegou em casa, cabia numa caixinha de sapatos.
Comprei-lhe um moleton azul de filhote de poodle, mas ela era tão pequenina que conseguia passar pela gola.
Quando decidimos, minha irmã e eu,  comprar um cachorro, queriamos um de porte médio que pudesse ficar  bem  mesmo morando em um apartamento.
Após muita pesquisa, optamos pela raça cocker spaniel inglês. Lemos tudo que havia sobre a raça e visitamos vários canis, pet shops, criadores.
Foram meses de uma exagerada e criteriosa busca pelo cachorro perfeito.
Conhecemos então a Dona Regina, cuja cachorrinha Edoarda havia dado cria. Com um pedigree digno de nota, Edoarda era uma cocker calma  e linda. Fomos visitá-la, por indicação da loja de animais.
Notei a mesa de centro da sala, baixinha, cheia de livros e cristais, tudo em perfeita ordem. Nenhum sinal de travessura canina.
Dona Regina explicou: Edoarda morava no apartamento e era comportadíssima e calmíssima, mas quando ia para  a fazenda se esbaldava, rolava  na grama, na lama, corria atrás das galinhas...
Era justamente o que queríamos, um cachorrinho que se comportasse bem dentro de casa, mas, ao ar livre, fosse animado, esperto, companheiro de brincadeiras!
A ninhada tinha vários cachorrinhos, todos lindos.
Dona Regina mostrou as feições da cabeça dos filhotes, orgulhosa da perfeição e da linhagem dos pequeninos. O cocker tem um determinado formato desejado para a  cabeça, como a forma  de um ovo no cocoruto.
Enquanto conversávamos no quarto de empregadas, onde estava a ninhada,  uma filhotinha saiu dali a aventurou-se sem medo pela lavanderia afora, desbravando o espaço com curiosidade.
Era preta, com sobrancelhas castanhas - uma black and tan com carinha de brava e pelos muitos macios.
Tive certeza: era ela. Tinha que ser ela.
 Destemida, corajosa, esperta e  linda.
Dona Regina  a havia batizado de Bárbara, pois o nome traduzia  o que ela era:  barbaramente bonita.
Mas eu já havia escolhido seu novo nome, e que combinava perfeitamente com esta cocker que seria nossa grande amiga por mais de 10 anos : Theodora, a filha da Edoarda com o Beethoven.
Theodora, a  cocker spaniel mais leal e valente que o mundo já viu.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Uma pequena cachorrinha deixa saudades do tamanho do mundo

É incrível, perdi as últimas postagens. Mas mesmo tendo-as perdido, não me incomodo .
O fato é que cada vez que falo da Theodora, uma saudade imensa me invade o coração, transborda pela mente e se derrama pelo teclado, deixando as palavras impregnadas de um vazio misturado com uma imensidão de amor.
Como é possivel  gostar tanto de um cachorrinho? Como é possível sentir tanto a  sua falta?
Existem serezinhos que vêm de encontro às nossas vidas apenas para nos relembrarem sobre  o amor incondicional.
Este foi o papel desta cocker spaniel guerreira, tão amada e tão especial para todos nós.
No quarto, há  um copo com uma pequena orquídea para Theodora, um pequeno tributo em agradecimento pela amizade de tantos anos.
Espero que esta história inspire as pessoas a não desistirem de seus animaizinhos.
Theodora  não viveu pra sempre, mas, enquanto viveu, foi uma fonte inesgotável de lealdade e alegria, mesmo quando estava fazendo quimioterapia  e lutando contra o monstro do  hemagiossarcoma canino.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Uma cocker spaniel quase vegetariana - Frutas e mimos extras durante a fase da quimioterapia

Hoje lembrei do dia em que Theodora roeu uma espiga de milho cheia de formigas e ficou de carinha inchada, parecendo uma mini rotweiller.
Tadinha. Mas rapidamente a levamos ao veterinário e ficou tudo bem. Theodora adorava milho. Aliás, todo mundo brincava que eu tinha uma cocker spaniel vegetariana.
Entre uma manga e um filé, ela hesitava, olhando para um e para outro, decidindo qual abocanhar primeiro, num impasse supremo que nos fazia rir...
Manga, morango, pepino, hamburger de soja, macarrão, banana, milho, água de côco, cenoura...realmente, este é um cardápio meio inusitado tratando-se de cães.
Gente, minha cachorrinha adorava chá. Pode isso?
E ração que é bom, ela só encarava mesmo por falta de alternativa.
Claro que priorizamos a ração, que é balanceada, mas durante o tratamento do hemangiossarcoma canino, ou seja, durante a tensa fase da quimioterapia, abrimos uma exceção e deixamos a Theodora se esbaldar com pepinos, saladinha de frutas...afinal, alguns mimos extras sempre servem para elevar o moral...
E depois, ainda nesta fase da quimio, acabamos por descobrir a técnica de esconder o comprimido de Genuxal na rodela de banana: Theodora engolia rapidinho, sem nem piscar... e o fato dela gostar de chá também facilitou bastante as coisas, pois, além de hidratar, buscávamos sempre priorizar os chás com ervas medicinais, para o fígado e rins. Sem eliminar a alopatia, usamos a homeopatia como um reforço nesta luta contra uma inevitável futura metástase, que acabou chegando sem cerimônia, mas que retardamos o mais que pudemos.
São tantas lembranças... agora resta a saudade e a certeza de que valeu a pena.
Ainda não consigo falar do dia da derradeira despedida, embora Theodora, neste dia, tenha sido sublime, despedindo-se com um gesto de extrema compreensão, encerrando sua jornada com uma última demonstração de lealdade sem fim...
Realmente, Theodora foi um anjinho que veio alegrar nossas vidas e que agora voltou para sua casa...e o céu deve ter se tornando um lugar muito mais animado desde então.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O começo do fim

Há semanas tento retomar as postagens, mas olho o notebook e o coração me emperra as mãos.
Antes de mais nada, quero dizer que toda esta luta foi válida.
Nào me arrependo um minuto sequer de ter feito tudo o que pude para tentar salvar a Theodora .
O tratamento contra o câncer - mais especificamente o hemangiossarcoma -, não foi tão difícil assim.
E posso afirmar que sim, o veterinário atingiu a sua expectativa.
O problema é que a minha expectativa era muito maior que a dele. Ele batalhava para 2 ou 3 meses de sobrevida com qualidade. Eu batalhava pelo milagre.
Mas ele sempre foi sincero e me alertava para festejar cada dia como se fosse uma grande e imensa conquista. Não havia como fazer promessas.
E Theodora lutou bravamente.
Lidou superbem com a quimio, saía até animadinha das sessões, e eu brincava que ela estava era tomando guaraná em pó em vez de quimioterápicos.
Foram meses de tensão, de preocupação, mas também de muita esperança.
Theodora, nestes meses, nos presenteou com momentos mágicos.
Como se soubesse da iminente despedida, fez questão de acrescer capítulos formidáveis à nossa história.
(Me desculpe, Marley, mas o melhor cachorro do mundo não era você...)
Difícil contar como a história acabou.
Mas o fato é que até o último instante, Theodora mostrou o que é ser guerreira e o que é ser fiel.
Numa lição de profunda amizade, Theodora me deixou a mais linda das mensagens e não me abandonou nem no último segundo de sua vidinha.
Vou tentar retomar o blog, retomando esta história do dia em que fui tomar sol na casa de uma amiga de infância.
Estávamos até então muito otimistas. Queria ver Theodora no Guiness Book, com o recorde mundial de sobrevida num caso de hemangiosarcoma.
Cheguei à casa desta amiga ainda cedo, e algumas horas depois minha irmã chegou trazendo a Theodora consigo. Theodora sempre adorou tomar sol, virando a pança para cima, e não raro atirando-se na piscina...
Mas Theodora não parecia muita animada.
Achei estranho, pensei que talvez ela não estivesse a fim de interagir com os outros cachorros, o golden retriever e os dois jackie russels da minha amiga, que se revesavam disputando minha atenção.
Mas depois de algum tempo, quando ela foi deitar sozinha num canto, fiquei preocupada.
Cachorro quando se isola assim, do nada, sem aparente motivo, é sinal de que algo vai mal.
E em pouquisismo tempo, Theodora ficou apática, parecia fraca, não quis comer ração.
Corri para o supermercado, comprei bananas (e um plasil por via das dúvidas).
Lembrei que o veterinário, na manhã anterior (um sábado), havia me dito que Theodora estava bem.
Fiquei repetindo mentalmente o que ela havia me explicado: o fígado havia apresentado algumas manchas no ultrassom, e por isso foi preciso fazer alguns novos exames. Mas o importante é que ela não estava vomitando, pois isso sim seria um sinal de comprometimento do fígado.
Ative-me a esta observação do médico como o náufrago que se agarra a um destroço no mar revolto.
Pois naquela noite Theodora vomitou um líquido amarelado.
E desta vez não era nenhuma manga.
Assim, do nada, de um dia para outro, ela, que parecia tão bem, ficou fraca.
Os olhos pareciam cansados, extremamente cansados.
Theodora vomitou quietinha num cantinho do quaro de hóspedes, e foi me chamar para mostrar que algo estava errado.
- O que você quer, Theodora? O que foi? Me mostra.
Segui-a. Ela entrou no quarto de hópedes, parou diante do tapetinho e olhou para mim.
Ao ver aquela gosma amarelada, entendi que era hora de me preparar para o pior.
Um vazio imenso tomou conta de mim.
Um antagonismo: um vazio preenchendo um coração...

Hemangiossarcona canino - este monstro levou Theodora...

Este deveria ser uma história vitoriosa, alegre, com um final feliz.

Um exemplo de sucesso, para ser compartilhado.
Um sopro de esperança. Mas nem sempre a vida é escrita segundo a vontade do autor. Depois de muita luta, de muitos tratamentos, de momentos de tristeza intercalados por muita esperança, depois de muita espera...o milagre não veio.

Ou talvez até tenha vindo, numa dose homeopática, que permitiu que Theodora resistisse alguns meses, dando-nos mais tempo para a despedida. Talvez este tenha sido o milagre, enfim.

O câncer é uma doença agressiva e impiedosa, como rio revolto que invade, se infiltra, arrasta. Eu era pura esperança. Hoje sou puro vazio.

Minha Theodora se foi, e com ela, um pedacinho do meu coração.

Mas sei que ela foi porque era tempo, pois sua missao aqui de ser a mais leal, divertida e amorosa cachorrinha do mundo havia sido cumprida.

Nunca imaginei que perder um animalzinho de estimação pudesse ser algo tão sofrido. Nem sei como cabe tanta saudade em mim.

Mas Theodora me foi fiel até o último e derradeiro instante, numa demonstraçâo linda de amizade e de cumplicidade.

Mas falo disso outra hora. Hoje não dá.

Hoje só consigo imaginar que o céu deve ter se tornado um lugar muito mais legal, com uma cocker black and tan correndo toda prosa atrás dos anjos, brincando com as nuvens e pulando no colo de São Pedro...